quarta-feira, 29 de abril de 2009

Manicure que deixa a cutícula conquista mulheres de SP

Método aposta na hidratação para afinar a cutícula em vez de tirá-la.
Objetivo é manter a saúde do corpo e, principalmente, das unhas




Fazer as unhas sem retirar completamente a cutícula tem se tornado preferência entre várias mulheres de São Paulo que não abrem mão de aliar beleza e saúde. Sabendo que a pele bem fininha ao redor da unha é essencial para protegê-la contra vírus e bactérias, a publicitária Daniele Honorato, de 26 anos, vem mudando os hábitos.



“A cutícula é a famosa faca de dois gumes: ao mesmo tempo em que você precisa e sabe que tem que conservá-la, você quer se ver livre dela. Sempre tirei muita cutícula e isso me prejudicou. Agora, hidrato muito e cuido para não tirar mais do que devo, senão, a unha nasce fraca e torta”, conta a jovem, que mora em São Paulo, é uma das autoras do blog Unha Bonita e faz as próprias unhas desde os 13 anos.


Mas quem não sabe fazer as unhas em casa nem faz idéia do que é tirar pouca ou muita cutícula não precisa ficar de mal com o alicate. Dá para encontrar profissionais treinadas exatamente para fazer as unhas retirando apenas o excesso da membrana, ou seja, a parte morta e que levanta naturalmente ou ao ser afastada.
É o caso de Surama Felix, de 22 anos, profissional que passou por um mês de treinamento antes de ir trabalhar no Artisalus, um ateliê de beleza que fica na Zona Sul de São Paulo. Há menos de três anos em funcionamento na cidade, o Artisalus viu mais que triplicar o número de clientes mesmo indo de encontro ao hábito da brasileira de tirar toda a cutícula sempre que vai à manicure.
Surama, que trabalhava no ramo há três anos, conta que achou estranho aprender uma técnica em que devia preservar a cutícula. “Quando eu fazia as unhas, deixava bem fundo. Depois, entendi que dá para ter o mesmo aspecto retirando apenas o excesso e usando os produtos corretos para cuidado e hidratação”, relembra.

“De início, as clientes estranharam, mas a nossa idéia mesmo é a de mudar conceitos. Sabíamos que a resistência iria existir, mas é só apelar para a saúde que tudo muda”, afirma Renata Ribeiro, gerente do Centro Técnico Alessandro, onde essas profissionais são treinadas. “As clientes entendem que não deixamos de tirar a cutícula, e sim que vamos tratá-la para ela ficar cada vez mais fina e discreta”, diz.

Doenças

Tirar a cutícula faz um mal danado à saúde do corpo inteiro, alerta a dermatologista Ana Cristina Fasanella, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “A cutícula é uma membrana que permeia a matriz da unha. Ao tirá-la, a pessoa deixa a pele exposta à penetração de produtos químicos, além de bactérias e vírus”, orienta.

Entre os males mais comuns, está o nascimento de verrugas ao redor das unhas e o surgimento da paroníquia, conhecida popularmente como unheiro. A doença é uma infecção em torno da borda da unha e pode ser provocada, por exemplo, a partir do temível bife.

HEPATITE

Mas não são apenas as clientes que correm risco. Um estudo feito pela enfermeira Andréia Cristine Deneluz Schunck de Oliveira, do Instituto Emílio Ribas, constatou que uma em cada dez manicures da cidade de São Paulo possui hepatite.
Segundo a pesquisa, o problema é que muitas profissionais não adotam medidas de segurança básicas, como esterilizar os instrumentos de trabalho, usar luvas e lavar as mãos antes e depois de fazer a unha das clientes.
Das cem entrevistadas, apenas 26 delas usavam a autoclave, o método de esterilização considerado mais seguro. Ninguém, no entanto, sabia usar o equipamento adequadamente.

Para Andréia, o risco existe para clientes e manicures porque essas profissionais costumam usar o mesmo alicate para tirar a própria cutícula. Como elas não adotam os cuidados necessários, é bem provável, diz a enfermeira, que estejam se contaminando com a hepatite e transmitindo o vírus também às clientes. A pesquisadora sugere, então, levar aos salões de beleza o próprio alicate e palito, entre outros instrumentos, para fazer a unha dos pés e das mãos.



De olho nessa crescente preocupação com a saúde sem abrir mão da beleza, algumas empresas estão colocando no mercado produtos descartáveis, como luvas e lixas para pés e mãos.

A lixa da Dompel, por exemplo, tem base plástica e refis que podem ser colados e descartados após cada uso. “Lixa de pé é a pior: se for usada em alguém que tem micose, pode espalhar a doença por todo o pé da próxima cliente”, observa Vanessa Dal Prá, assistente de marketing da empresa.



Unha saudável

Para quem tirar toda a cutícula é tão necessário quanto tomar banho, a dica da dermatologista é diminuir essa agressão aos poucos. “Não precisa ser de um dia para o outro. Dá para continuar empurrando e tirar cada vez menos, além de usar um hidratante para as mãos durante o dia e, antes de ir dormir, deixar uma camada bem generosa nos cantos da unha”, sugere Ana Cristina.

A publicitária Daniele conhece bem uma outra dica dada pela dermatologista: todo dia, logo após o banho, ela afasta a cutícula. “Faz uma diferença enorme”, diz a jovem. Mas não pode ser com espátula nem com muita força, orienta a médica.



Para a estudante universitária Ana Gláucia Chiyo, de 21 anos, unha bonita é sinônimo mesmo de unha saudável. "A mão é uma parte do corpo que fica muito exposta e que eu vejo mais do que meu rosto, né?", diz a jovem, que também é responsável pelo conteúdo do blog Unha Bonita.



"Só fica bonito se a cutícula estiver muito bem hidratada. Se ela estiver seca, o esmalte fica todo irregular na base da unha. Lembrando que cutícula cutucada demais e vermelha é feio. Dá uma aflição!", resume Ana.